terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

CÁLCULO RENAL NOS GATOS - PROBLEMAS NO TRATO URINÁRIO

Aspectos Nutricionais da Urolitíase Felina

INFORMAÇÕES GERAIS
Os fatores nutricionais têm sido considerados entre as principais causas da Síndrome Urológica.
A administração de quantidades inadequadas dos diversos elementos minerais na dieta felina, associado à fatores como idade, sexo, confinamento e a presença de
infecção do trato urinário, favorecem à formação dos diferentes tipos de cálculos.
Estas condições podem favorecer a supersaturação da urina com cristais, principalmente os de fosfato triplo ou estruvita (fosfato amonio magnesiano) e esses por sua vez, predispõe à formação de cálculos.
Entre os diversos tipos de cálculos, os chamados de estruvita, são os que ocorrem com maior freqüência nos gatos 6. Outros cálculos como os de urato de amonio, oxalato de cálcio e fosfato de cálcio, são relatados com menor freqüência.
O grau de supersaturação da urina com cristalóides calculogênicos pode ser influenciado por um aumento na excreção renal desses cristalóides, que por sua vez, é observado nos casos de ingestão de dietas ricas nesses componentes minerais.
Embora se afirme que os gatos alimentados com dietas secas corram maior risco, gatos alimentados com diversas dietas (seca/úmida), desenvolvem a síndrome.
As rações secas favorecem o desenvolvimento da síndrome mais do que as dietas úmidas enlatadas, pois os animais que recebem dietas secas têm um consumo total de água menor do que aqueles que ingerem dietas úmidas , havendo uma conseqüente diminuição no volume urinário, e a baixa densidade calórica das dietas secas, resulta numa maior ingestão de minerais, favorecendo um aumento da concentração urinária de cristalóides calculogênicos.
TIPOS DE CÁLCULOS
Cálculos de estruvita
Estudos têm demonstrado que o principal mineral envolvido no aparecimento da urolitíase é o magnésio, uma vez que os cálculos de estruvita (fosfato amônio magnesiano) são os mais freqüentemente encontrados em felinos acometidos.
Durante muito tempo acreditou-se que quanto maior a quantidade de magnésio na dieta, maior a chance do desenvolvimento da síndrome.
Hoje acredita-se que para evitar a precipitação dos cristais de estruvita na bexiga, a manutenção de pH urinário ácido seja mais importante do que o controle da ingestão de magnésio, uma vez que os cristais de estruvita têm sua solubilidade diminuida em pH > 6,4.
O tipo de dieta e a freqüência com que o animal a recebe, podem interferir diretamente no pH urinário, favorecendo ou não a precipitação dos cristais de estruvita.
A proteína de origem animal é rica em aminoácidos sulfurados como cisteína e metionina, essa oxidação leva a produção de urina ácida. Em contrapartida, os cereais e vegetais de um modo geral promovem a formação de urina alcalina devido a grande quantidade de potássio e ânions inorgânicos. Assim, quando os animais são alimentados com produtos cárneos ou ração úmida enlatada, composta por derivados de origem animal, tendem a produzir urina ácida, enquanto a dieta seca, que em sua formulação estão incluídos cereais, tendem a resultar na formação de urina alcalina.
Outro fator considerado de importância fundamental na produção de urina alcalina, mesmo que temporária, é a onda alcalina pós-prandial, que resulta da secreção de ácido gástrico em resposta à ingestão de alimento.
A perda de ácido clorídrico é compensada pelos rins, que passam a conservar ácidos e excretar bases, o que determina a formação de urina alcalina. A alcalinização máxima da urina ocorre aproximadamente quatro horas após a ingestão do alimento e está na dependência do volume ingerido; portanto, a alimentação ad libidum, assim como a ingestão de produtos de origem animal, podem gerar uma onda alcalina pós-prandial de magnitude moderada, resultando em pH urinário próximo à 7,0.
Cálculos de urato de amônia
Dos cálculos encontrados em felinos, os de urato de amônia e o ácido úrico, apresentam baixa incidência em felinos. São localizados tanto no trato superior quanto no trato inferior e estudos indicam que os machos são  mais afetados que as fêmeas.
Um defeito da reabsorção tubular renal e anomalias porta-vascular têm sido incriminados como causas em poucos casos, a causa de formação na maioria dos cálculos, por urato de amônio não foi estabelecida4. Contudo, a formação de urina altamente ácida e altamente concentrada, associada ao consumo de alimentos ricos em precursores de purina (especialmente fígado) parece estar envolvida em alguns casos.
Cálculos de oxalato de cálcio
Os cálculos de oxalato de cálcio apresentam baixa freqüência em felinos. Esses tipos de cálculos são localizados nos rins, bexiga e uretra, sendo os gatos machos mais afetados que as fêmeas.
A causa (ou causas) primária da urolitíase de oxalato de cálcio de ocorrência natural é desconhecida.
Embora a deficiência de vitamina B6 experimentalmente induzida, tenha resultado em nefrocalcinose por oxalato, em gatos, não foi observado uma forma naturalmente ocorrente desta síndrome.
Vale a pena notar que foi relatado que o magnésio é inibidor da cristalização do oxalato de cálcio em ratos e em seres humanos, por esta razão , algumas vezes recomenda-se a adminstração oral de magnésio para que seja evitada a recidiva de urólitos de oxalato de cálcio.
O uso de acidificantes e/ou sódio suplementar (cloreto de sódio) foi associado a hipercalcemia em algumas espécies.
Cálculos de fosfato de cálcio
Este tipo de cálculo é o que possui a menor incidência entre os demais já citados. São localizados nos rins, bexiga e uretra e ocorrem em machos e fêmeas em igual freqüência.
Em algumas circunstâncias, cálculos de fosfato de cálcio ocorrem como resultado da mineralização de coágulos sangüíneos que se formaram e ficaram encarcerados no sistema urinário.
PREVENÇÃO
A prevenção de cálculos de urato de amônia deve englobar o consumo de dietas pobres em precursores da purina (fígado), e um esforço para produção de urina menos ácida (pH +/- = 7,0) que não seja altamente concentrada.
Em cálculos de oxalato de cálcio não foram publicados estudos controlados para avaliação da eficácia de prevenção da formação de cálculos de oxalato de cálcio.
A prevenção da formação de cálculos de estruvita baseia-se na administração de um manejo alimentar.
O objetivo primário do manejo alimentar é reduzir a concentração urinária de magnésio e fosfato, através da redução da sua excreção e manutenção do volume de urina.
Um objetivo secundário é manter um pH ácido da urina. Contudo, tanto a ocorrência como a recidiva podem ser previnidas, fornecendo -se somente dietas que contenham 20mg ou menos de magnésio/100 Kcal. Essas podem ser compradas comercialmente, ou podem ser preparadas à partir de rações caseiras.
O fornecimento contínuo de uma dieta calculolítica é necessário em casos raros que recidivam, mesmo com consumo restrito de magnésio.
Finalmente, e como resumo, o manejo alimentar para controle da urolitíase, deve reunir as seguintes características:
deve proporcionar nutrição completa para o gato adulto;
deve permitir a formação de urina ácida (o PH urinário do gato pode scilar normalmente entre 5,5 e 8,5). Em casos de urolitíase, o ideal é mantê-lo abaixo de 6,5;
a restrição de magnésio pode ser benéfica porque há um pequeno percentual de gatos que não respondem positivamente à acidificação urinária mas, por outro lado respondem à uma restrição de magnésio;
fornecer alimentação ad libitum, tentando minimizar os efeitos das marés alcalinas (onda alcalina pós-prandial);
manter o equilíbrio hídrico: é fundamental que o gato sempre tenha livre acesso à água limpa;
também é importante que a dieta seja altamente digestível.


Sergio Luís A. Pitarello
Médico Veterinário 

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