quarta-feira, 6 de abril de 2011

OS GATOS, ESTES ENCANTADORES

Encanto sobre quatro patas


Segundo contam os antigos, o gato teria surgido do sopro de um leão, para ajudar Noé a combater a infestação de ratos da bíblica arca. Há quem duvide. “Gatos não começaram como caçadores de ratos. Eu postulo que eles começaram como companheiros psíquicos e nunca se afastaram dessa função”, defende o escritor beatnik William Burroughts, em seu livro dedicado ao amor pelos felinos, “O gato por dentro”. Uma mostra da paixão que atravessa a história: há mais de cinco mil anos, homem e gato mantêm um laço estreito, que começou no antigo Egito e chegou ao mundo contemporâneo, movido pelo fascínio por um dos seres mais enigmáticos e encantadores sobre quatro patas.
Desde o começo de sua domesticação, os gatos ocuparam um lugar nada modesto. Na época dos faraós, enquanto os cachorros assumiram o papel de sentinelas, os gatos eram adorados como seres divinos. A deusa Bastet, símbolo de maternidade e ternura, era retratada com corpo de mulher e cabeça de gato.
Belos e cheios de personalidade, os felinos eram considerados os guardiões do outro mundo: da noite, dos mistérios da vida e da morte. Quando morriam, eram mumificados e seus donos raspavam as sobrancelhas em sinal de luto. Quem matava ou simplesmente feria um gato era condenado à morte.
Se por um lado a altivez dos gatos lhe reservou destaque, também foi motivo para despertar temores. Os seus supostos poderes sobrenaturais o tornaram vítimas de torturas e alvo de perseguição, sobretudo pela Igreja Católica. No século XIII, com a Inquisição, no bojo dos cassados em nome da fé, além de bruxos, hereges, e homossexuais, os gatos, considerados diabólicos, também foram parar na fogueira.
Ainda assim, os bichanos despertavam paixões em admiradores ilustres. Leonardo da Vinci escreveria que considerava “o menor dos felinos uma obra-prima”. Mais tarde, Lord Byron proclamou a superioridade do gato em relação ao homem. “Ele possui a beleza sem a vaidade, a força sem a insolência, a coragem sem a ferocidade, todas as virtudes do homem sem os vícios”. Os gatos também foram exaltados por Victor Hugo, Mark Twain, Pablo Neruda, Júlio Cortazar, amados por Chopin, Liszt, Monet, Renoir e até por Andy Warhol, que publicou um livro de gravuras que retratavam seus quase 20 gatos.
Em 1900, ainda no século XVIII, os gatos viraram celebridades do mundo do entretenimento. Entrou em cena, ou melhor, na telinha de TV, o esperto Gato Félix. Outro bichano de sucesso foi o preguiçoso e folgado Garfield, que surgiu no final da década 1970 e se tornou uma das tirinhas mais famosas da história, atrás apenas da Peanuts. Na sequência, uma lista sem fim de tantos outros personagens de sucesso: Manda Chuva, Frajola, Tom.
Mas essa história tem capítulos menos hollywoodianos, e nem por isso, menos interessantes. Lewis Carroll, escritor inglês, escolheu um gato para viver Cheshire, animal que acompanha a pequena Alice em sua fantástica expedição pelo País das Maravilhas. Mágico, o bichano aparece e desaparece quando deseja.
Sagaz, zomba das ironias da vida. “Somos todos loucos por aqui. Eu sou louco, você é louca. Veja o seguinte: um cachorro rosna quando está brabo, e abana o rabo quando está satisfeito. Ora, eu rosno quando estou satisfeito, e abano o rabo quando estou brabo. Portanto, sou louco”, filosofa o gato sobre sua incapacidade de se encaixar em convenções sociais.
O ilustrador norte-americano Neil Gaiman, famoso pela série Sandman, também fez do bichano voz de questionamento sobre a condição humana, como no trecho de seu livro “Coraline”. “Os gatos não têm nomes. Já vocês, pessoas, têm nomes. É por isso que não sabem quem são. Nós sabemos quem somos e por isso não precisamos de nomes”.
O poeta Charles Baudeleire reservou um trecho de sua obra fundamental, “Flores do Mal”, ao seu afeto pela ambígua figura do gato, dócil e fatal na mesma medida. No poema “Le Chat”, declara “Em sonho a vejo/ Seu olhar, profundo/ Como o teu, amável felino,/ Qual dardo dilacera e fere fundo”.
REI DA CASA
Imperativo e apaixonante, o gato seduz a quem convive. “Eu sempre gostei mais de gato. Cachorro é muito subserviente. É o gato, na verdade, quem escolhe com quem estar. Se ele não quer, ele não fica”, diz a atriz Andréia Rezende, tutora de Panthro, gato vira-lata adotado há três anos. “Gatos são mais sensíveis. Eles sabem quando estamos tristes, doentes, e ficam sempre ao nosso lado”, garante.
Declaradamente apaixonada pelo bichano, Andréia diz que Panthro despertou nela a vontade de cuidar com muito afeto. Tanto que ela se associou a grupos de proteção de animais, e passou a confeccionar objetos de decoração inspirada pelo felino. E mais: deixou de comer carne motivada pelo amor que sente pelo chameguento animal de estimação. “Há um ano me tornei ovolactovegetariana, e pretendo chegar ao veganismo, parar de consumir qualquer produto derivado de animais. E essa escolha não foi por preocupação com saúde, mas por respeito aos bichos, graças ao amor que compartilho com Panthro”.
Como membros da família também são os três gatinhos que moram com Leo Bitar, desenhista de som. Amante de música, Bitar batizou cada um dos companheiros com nomes que homenageiam seus ídolos pop. A mais nova, Rita Lee, tem dois anos, e foi resgatada das ruas de Belém. Ziggy Stardust, 13, foi encontrado muito doente em um pet shop de São Paulo. Quase sem pelos e magrelo, não à toa o gato recebeu o nome do exótico personagem alienígena criado por David Bowie. “Ele era todo estranho, coitado.
Estava abandonado na loja. E o escolhi justamente para cuidar dele”, relembra Leo, também dono de Nico, 14 anos, paulista e a gata mais velha do trio.
“O gato diz quando quer algo, e reclama se não quer o que lhe oferecem. Com cachorro a relação é mais simples. Com o gato é como se ele fosse o rei da casa”, diz Bitar, que conta ainda ter sempre a companhia de seus animais enquanto escuta rock. “Eu tenho duas poltronas para ouvir música. E sempre algum deles ouve comigo, sentado em uma cadeira”.
Os gatos rockeiros de Leo recebem atenção de filhos. Ele diz que já perdeu a conta de quantas vezes recusou convites para viagens e passeios com os amigos para voltar para casa e cuidar do trio. “Uma vez o Ziggy sumiu por uma semana, e eu chorava todo dia, pensando em como estava, se tinha se alimentado, se estava vivo”, conta Leo, que procura não desanimar com a hipótese da partida de um dos seus amigos felinos. “Eles estão bem velhinhos, já. Quando um deles se for, vai ser duro. Mas vivemos muita coisa juntos, e temos belas lembranças”.
GATOS SUPER STARS
Gato Cheshire: No final do século XIX, um felino rouba a cena de um clássico da literatura. Em Alice no País das Maravilhas, o misterioso Gato Cheshire tem a habilidade mágica de desaparecer, e um largo sorriso. Suas charadas irônicas acompanham Alice em sua empreitada pelo fabuloso mundo imaginário que já virou desenho animado e filme.
Félix: Em 1900, chega a vez do estrelado para os gatos no mundo do entretenimento. Estréia a série animada Gato Félix.
Garfield: Preguiçoso e comilão, Garfield dar o ar de sua graça gorducha ao mundo no final da década 1970, e se tornou uma das tirinhas mais famosas da história.
Manda-chuva: Malandro, simpático e espertalhão, o gato comanda uma gangue de Nova Iorque e inventa planos para escapar do Guarda Belo.
Frajola: Frajola tenta a todo custo fazer o canário Piu-Piu de refeição. Mas o passarinho sempre dá um jeito de escapar e ainda coloca a culpa de tudo o que acontece no gato. A dupla foi criada em 1930.
ADOTE UM GATO
Abrigo Casa da Tuti

9196-8260

Associação de Defesa e Proteção Animal

www.asdepa.com.br

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